sexta-feira, 22 de maio de 2015







Stéphane Mallarmé, quando lançou, em 1897, o seu Un Coup De Dés Jamais N'Abolira Le Hasard, constituiu-se como um divisor de águas na história da literatura. O poeta, responsável por fazer com que as palavras sacudissem de si a cal rígida que as revestia, atribuiu-lhes outras formas de leitura sobre a superfície do papel branco, dessacralizando em poucas páginas séculos de uma poesia engessada na estrutura convencional do verso. Mallarmé percebeu a visualidade e a oralidade do poema, que de repente conquistava espacialidade além de temporalidade. O texto literário determinado e determinante dava lugar, assim, a uma escrita em que a mobilidade e a sugestão foram legitimadas.
O espaço mallarmaico se situa como fonte constante de reflexão e geração de ideias. A referência a ele está presente nas produções contemporâneas que envolvem o diálogo entre texto e imagem, como uma possibilidade de expansão da página e valorização de cada um dos elementos que a compõem, desde os aspectos semânticos do texto à sua visualidade e aos intervalos, conferindo relevância ao espaço em branco no processo de significação.
Os espaços em branco, os intervalos entre um bloco de texto e outro, portanto, são fissuras no corpo da linguagem, são vãos que permitem entrever um abismo pleno de possibilidades, que convida ao preenchimento e que, por sua capacidade de conter (e completar) tudo quanto se possa imaginar dentre os marcos visuais e semânticos compostos pelos textos, é mais prolixo do que sucinto. Nestes espaços se pode ler sem palavras e se pode construir imagens que não se apresentam na materialidade. 

Postado por: Léo Tavares

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