sábado, 6 de junho de 2015

"Isto Não É um Cachimbo - Ceci n'est pas une pipe"




Paul-Michel Foucault,filho do cirurgião Paul Foucault e de Anna Malapert, nasceu em Poitiers, no dia 15 de outubro de 1926. Embora pertencesse a uma tradicional família de médicos, Michel caminhou em outra direção. Na sua educação escolar encontrou todas as influências necessárias para guiá-lo no caminho da filosofia. Seu primeiro mentor foi o Padre De Montsabert, do qual herdou seu gosto pela história. Além disso, era um autodidata e adorava ler. Foucault viveu o contexto da Segunda Guerra Mundial, o que estimulava ainda mais seu interesse pelas Ciências Humanas. Mesmo contrariando os desejos paternos de que seguisse a Medicina, suas condições sócio-financeiras lhe permitiam seguir com seus estudos.
Michel Foucault publicou Ceci n'est pas une pipe que em português significa "Isto Não É um Cachimbo" exatamente cinco meses após a morte de René Magritte, autor da pintura a que se refere o texto. De maneira geral, o ensaio cumpre uma função de elogio, homenagem ao pintor belga, falecido em um momento de grande importância para a produção do pensador francês (pouco após a publicação de As Palavras e as Coisas).

René Magritte nega aquilo que estamos a ver. A uma primeira análise, o significado desta negação torna-se claro, pois aquilo que estamos a ver não é um cachimbo verdadeiro, mas sim a representação de um cachimbo. Deparamo-nos com um desafio àquilo que se convencionou chamar de "cachimbo", pois a nossa imagem de cachimbo está negada. Magritte como que esvaziou de sentido aquilo que entendemos como sendo a palavra "cachimbo". Não podemos identificar esta representação com aquilo que o objecto é, gerando-se, assim, um conflito de mensagens. Este quadro pode, portanto tratar-se de um exemplo de "paródia", na medida em que até à leitura da legenda, o espectador não tem dúvida que se trata de um cachimbo


A imagem, aqui, é o "ícone" de um cachimbo, já que realmente "se parece" com um cachimbo e portanto permite uma "excitação análoga na mente" de quem vê. A questão impele-nos a pensar que imagens diferentes evocam diferentes analogias na mente de quem vê, analogias que variam conforme o grau de excitação provocada pela imagem.

  Michel Foucault faz a reflexão sobre o tema do cachimbo entre dois desenhos.


Primeira versão, a de 1926, eu creio: um cachimbo desenhado com cuidado e, em cima (escrita a mão, com uma caligrafia regular, caprichada, artificial, caligrafia de convento, como é possível encontrar servindo de modelo no alto dos cadernos escolares, ou num quadro-negro, depois de uma lição de coisas), esta menção: "Isto não é um cachimbo".

A outra versão – suponho que a última –, pode-se encontrá-la na Alvorada nos antípodas. Mesmo cachimbo, mesmo enunciado, mesma caligrafia. Mas em vez de se encontrarem justapostos num espaço indiferente, sem limite nem especificação, o texto e a figura estão colocados no interior de uma moldura; ela própria está pousada sobre um cavalete, e este, por sua vez, sobre as tábuas bem visíveis do assoalho. Em cima, um cachimbo exatamente igual ao que se encontra desenhado no quadro, mas muito maior.

  •  “Vejam esses traços agrupados sobre o quadro-negro; por mais que possam se assemelhar, sem a menor discrepância, a menor infidelidade, àquilo que está mostrado lá em cima, não se enganem com isso: é lá em cima que se encontra o cachimbo, não neste grafismo elementar." Mas talvez a frase se refira precisamente a esse cachimbo desmedido, flutuante, ideal -simples sonho ou idéia de um cachimbo. Será necessário então ler: “Não busquem no alto um cachimbo verdadeiro; é o sonho do cachimbo; mas o desenho que está lá sobre o quadro, bem firme e rigorosamente traçado, é este desenho que deve ser tomado por uma verdade manifesta". 

Magritte redistribuiu no espaço o texto e a imagem; cada um retoma seu lugar; mas não sem reter alguma coisa do esquivo que é próprio ao caligrama. A forma desenhada do cachimbo expulsa todo texto explicativo ou designativo, tanto é reconhecível; seu esquematismo escolar diz muito explicitamente: "você vê tão bem o cachimbo que sou, que seria ridículo para mim dispor minhas linhas de modo a lhes fazer escreveristo é um cachimbo. As palavras, de certo, me desenhariam menos bem do que eu me represento"



 'A Traição das Imagens' (em francês: La trahison des images)
a obra está atualmente no Museu de Arte do Condado de Los Angeles (LACMA) na Califórnia ,considerado um ícone da arte moderna. Fortemente influenciado pela psicologia freudiana, o surrealismo representou uma reação contra o "racionalismo". A Traição das Imagens desafia a convenção linguística de identificar uma imagem de algo como a coisa em si. A princípio, o ponto de Magritte aparece simplista, quase ao ponto de uma provocação: Representando um trabalho que  é extremamente paradoxal. O seu estilo realista e o subtítulo remete para um anúncio publicitário, uma área em que Magritte teria trabalhado.


Michel Foucault analisa ainda as duas produções de Magritte através de uma perspectiva comparativa aos papéis de Klee e Kandinsky para a pintura ocidental. Segundo Foucault, esta conteria dois princípios dominantes entre o século XV e o século XX: uma separação entre representação plástica e representação linguística, subvertido na obra de Klee, pois este faz “valer em um espaço incerto [...] a justaposição das figuras e a sintaxe dos signos” (p. 256), e um princípio de equivalência entre a semelhança e a afirmação de um laço representativo, abandonado por Kandinsky, pois este “liberou a pintura dessa equivalência” (p. 256).
  • Ninguém, aparentemente, está mais afastado de Kandinsky e de Klee quanto Magritte. Pintura mais do que qualquer outra vinculada à exatidão das semelhanças até o ponto em que ela as multiplica voluntariamente como para confirmá-las [...], determinada a separar, cuidadosamente, cruelmente, o elemento gráfico e o elemento plástico: se acontece de serem sobrepostas como o são uma legenda e sua imagem, e na condição de que o enunciado conteste a identidade manifesta da figura, e o nome que se pretende lhe dar. No entanto, a pintura de Magritte não é estranha ao empreendimento de Klee e de Kandinsky; ela antes constitui, a partir de um sistema que lhes é comum, uma figura simultaneamente oposta e complementar. (p. 256-257)
  • "O caligrama é, portanto, tautologia. Mas no oposto da retórica. Esta emprega pletora da linguagem, serve-se da possibilidade de dizer duas coisas com palavras diferentes; usufrui da sobrecarga de riqueza que permite dizer duas coisas diferentes com uma única e mesma palavra; a essência da retórica está na alegoria. O caligrama, quanto a ele, se serve dessa propriedade das letras que consiste em valer ao mesmo tempo como elementos lineares que se pode dispor no espaço e como sinais que se deve desenrolar segundo o encadeamento único da substância sonora. Sinal, a letra permite fixar as palavras; linha, ela permite figurar a coisa. Assim, o caligrama pretende apagar ludicamente as mais velhas oposições de nossa civilização alfabética: mostrar e nomear; figurar e dizer; reproduzir e articular; imitar e significar; olhar e ler". 
  • "Mesma coisa para a tautologia. Aparentemente, Magritte volta da repetição caligráfica à simples correspondência da imagem com sua legenda: uma figura muda e suficientemente reconhecível mostra, sem dizê-lo, a coisa em sua essência; e, em cima, uma palavra recebe dessa imagem seu "sentido" ou sua regra de utilização. Ora, comparado à tradicional função da legenda, o texto de Magritte é duplamente paradoxal .Empreende nomear o que, evidentemente, não tem necessidade de sê-lo (a forma é por demais conhecida; a palavra, por demais familiar). E eis que, no momento em que deveria dar o nome, o faz negando que seja ele. "


O pensador francês conclui que, de certa maneira, Magritte “escamoteia o fundo de discurso afirmativo sobre o qual tranquilamente repousava a semelhança; e movimenta puras similitudes e enunciados verbais não afirmativos na instabilidade de um volume sem referências” (p. 263), e chega a visualizar em “Isto não é um cachimbo” uma espécie de receita, quase uma fórmula de composição, cujos passos seriam 

    

  1.  construir um caligrama; 
  2.  decompor o caligrama, desfazendo seus traços; 
  3.  permitir que o discurso, desprendido da imagem, “caia” em forma de letras;
  4.   permitir que as similitudes se multipliquem para que no fim se constate que 
  5.  “a pintura cessou de afirmar”.   

Charge:Alberto Montt "Eu sabia exatamente quem eu era.
meu conflito de identidade começou
quando eu conheci o trabalho de um tal de magritte ".



Pra quem tem Curiosidade como Pronúncia :
            Ceci n'est pas une pipe                               
              

Fontes:O Livro Completo:http://anarcopunk.org/biblioteca/wp-content/uploads/2009/01/foucault-michel-isto-nao-e-um-cachimbo.pdf
http://www.infoescola.com/psicologia/michel-foucault/
http://dialogosantropologicos.blogspot.com.br/2013/05/isto-nao-e-um-cachimbo_29.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/A_Trai%C3%A7%C3%A3o_das_Imagens

                                                                                                       

                                       Postado por: Mariana Munaretto


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